PROVAS DE FOGO

Se desse pra viver minha dor quietinha seria menos mau.
Mas, o nosso planeta não para de girar, né?!
Então, tive que ir na Igreja.
1º porque meu espírito precisa,
2º, daria muito na vista não ir à reunião semanal da Liturgia, uma vez que faço parte da coordenação. E a B, que é a coordenadora ainda me liga dizendo que não vai poder ir e pede que eu conduza a reunião. HELP!!!!!, gritei... mas, ela não ouviu... ninguém ouve meus gritos mudos... incrível... inacreditável...

Engoli um balde de lágrimas, respirei fundo e segui com minha cruz.
Como era 4ª de cinzas, a Igreja lotou.
Isso significava que muuuuuuita gente ia me perguntar pelo meu amor...
Fiquei por ali no meio dos cantores, rezando pra não ser notada... inútil.
Todo mundo gosta da nossa Família.
Todos acham a nossa Família perfeita.
Ninguém aceita que C esteja morando com outra.

E como não falei nada com ninguém, pra evitar lágrimas, as pessoas vieram à mim. HELP!!!!!, gritei novamente... e, novamente, ninguém ouviu...

Elias veio me abraçar, perguntou se eu estava bem... pra ele não devo mentir... apenas balancei a cabeça negativamente... ele perguntou: 'cadê teu marido?'... não respondi nada... me concentrei em engolir outro balde de lágrimas... no final da Missa, lá vem ele preocupado conosco... ainda consegui dizer: se vc me fizer falar, vou chorar... e aqui não consegui segurar as lágrimas... ele, todo sem jeito e sem saber de nada, disse: 'força, não desista!' COMO???
Veio dona Carmelita e perguntou: 'como estão os rapazes?' Respondi sem lhe olhar nos olhos um fraquilíssimo 'estão bem'...
Veio a Vó... pra ela eu não posso contar nada... ela já tá tão velhinha... é muita tristeza pra idade dela... novamente, sem olhar no olho balbuciei um 'tudo bem'...
Veio dona Isabel...
Veio o Edilson...
Veio a Helena... essa me conhece melhor... procurei fugir dos olhos dela pra não ter que falar... no final da reunião ela ainda me convidou pra sentarmos um pouco na padaria... dei uma desculpa qualquer e saí dali 'correndo'...